yolanda
2 min readMay 13, 2019

Debaixo da máscara

(Junji Ito: Uzumaki)

Naquele dia eu estava sozinha comigo mesma e ainda hoje, tenho andado mais só. têm sido amaros os tempos em que me permito estar desacompanhada. ainda que vez ou outra não resista a investidas alheias, me é devolvida a solidão maior nesses casos com propósitos vazios. aprendi que momentos breves de calor não estancam as feridas e dores de amor. ainda que demasiado piegas, está circunscrita esta sentença no suor e lágrimas que derramei, nos orgasmos que não atingi e na pena que me conjurei. posto que não tenho muito a oferecer para mim mesma, já que me encontro perdida num tempo em que tudo que sabia sobre mim, hoje desconheço. sou eu, a mim, uma completa estranha. há noites de luxúria em que Yolanda me estrutura, mesmo que conheça dela quase nada, ainda a pomba gira cigana é mais evidente, do que a mulher subliminar por debaixo da máscara. a mulher de verdade se perdeu em um instante. não sei se foi quando disse o primeiro adeus, ou se quando disse o segundo. eram homens, ainda que o mesmo. num só muitos, em muitos um só. que me despiam e que me despedi. fiz do acaso algo que o destino jamais poderia explicar, por feitio sublime inconsciente, eu escolhi. me apresentei, com uma enorme vontade de retornar à cena e ter dito melhor, ou melhor... não ter dito coisa alguma. o acaso foi lançado, o sangue correu pelas veias e eu escolhi matar todo o sentimento acumulado, esfriar-me, endurecer-me, recompor-me. e mais uma vez abraço a solidão como alguém que não tem ninguém para pedir perdão. se aqui eu sou só o pó, da poeira que sobrou dos dias.